Obesidade – é ruim ser gordo?

Obesidade – é ruim ser gordo?

Dicas para uma vida com mais qualidade

 

“O paciente é o médico, e o médico e seu ajudante” (Paracelso, médico, 1493-1541)

“Abundância de matéria corporal facilita a formação de tumores” (Hipócrates, médico, 460 – 370 a.C.)

 

Nunca na história do homem teve tanta comida como nos nossos tempos. A fome, às vezes interrompida por tempos curtíssimos de fartura, era sempre presente. Quem era capaz de acumular energia rapidamente nestes períodos de fartura, levou vantagem para sobreviver nos tempos de fome.

 

Visto assim, são pessoas, que engordam rapidinho, produtos de excelência da seleção natural.

 

 

O corpo humano tem mil estratégias para sobreviver na fome, mas nenhuma estratégia para sobreviver com saúde na fartura permanente.

A natureza prevê, que o homem possa buscar seu sustento e procriar como todo ser vivo deste planeta. Já que não tem raízes no chão, não sabe voar ou nadar, que se levante pela manhã e ande nas suas duas pernas na luz do dia até a noite, buscando comida, subindo em árvores, cavando na terra, treinando assim involuntariamente toda sua musculatura.

Que coma folhas, tubérculos, raízes, frutas, insetos, pequenos e grandes animais, peixes – tudo o que é comestível e que ele encontra, tudo sempre bem variado (compare a comida mediterrânea). Este estilo de vida mudou no mundo todo, e no Nordeste brasileiro especialmente nos últimos 40 anos.

 

Os nossos genes não são preparados para uma fartura sem fim, sem tempos de fome.

A realidade hoje? Necessitamos somente poucos passos para encontrar a primeira refeição do dia, também poucos passos para o carro ou a moto, para o trabalho e na volta para casa. No trabalho braços e mãos sempre postos para frente, no teclado do computador, no fogão ou na pia da cozinha, na montagem numa oficina, na construção de algum projeto.

Mesmo assim estamos à noite cansados, querendo nos beneficiar com uma boa janta, com as notícias na TV e com um filme, depois para a cama. Sempre sentado ou de pé. Caminhar ou correr os 10 a 20 km previstos, subir em árvores, cavar na terra? Nem pensar!

Quilômetros por dia:
Tempo das cavernas: ~ 20 km/dia
Até 1850: ~ 12 km/dia
Em 1900: ~ 8 km/dia
Em nossos tempos: menos de 2 km/dia

 

O aumento de peso é muito comum na idade entre 18 e 24 anos. Quem na vida posterior não quer ser obeso, deve nesta idade cuidar de manter o próprio peso.

37 de 100 pessoas engordam nesta fase de vida tanto que podem ser chamados de obesos. Aumento de peso facilita o estoque de gordura no fígado.

O nosso fígado é uma fábrica química perfeita, um órgão previsto para o estoque temporário de açúcar e gordura após as refeições, especialmente nos tempos curtos de fartura. Mas não é previsto para o estoque de gordura permanente em tempos de fartura eterna.
Quando o fígado está obrigado a estocar gordura permanentemente (esteatose hepática), o tecido hepático começa a inflamar (NAFLD). Caso que este estado permanece, o tecido do fígado pode ser transformado em cirrose hepática.
A esteatose hepática significa o começo de uma carreira diabética e facilita a formação de cálculos renais (nefrolitiase).

Fisiologicamente tem homens mais do hormônio Testosterona que mulheres e mulheres mais do hormônio Estradiol e seus derivados que homens. Interessante é que homens obesos têm muitas vezes taxas baixíssimas do hormônio Testosterona. Deficiência de Testosterona facilita a engorda. Não se sabe com segurança, se a falta de Testosterona é a causa da engorda ou se a engorda é a causa das taxas baixas de Testosterona. O que se sabe, é que homens após uma cirurgia bariátrica ou tratados com os novos medicamentos antidiabéticos perdem peso e produzem mais Testosterona que antes.
Homens com deficiência de Testosterona (várias vezes verificada!) tem bom proveito pela substituição de Testosterona: eles ficam menos cansados, menos tristes e irritáveis, têm mais massa muscular, menos peso e barriga, tem menos Diabetes do tipo 2 e tem uma vida mais longa.

A boa notícia: ainda sem substituição de Testosterona, mas sendo corporalmente ativos, 33% de homens obesos com dificuldade severa de ter sexo (impotência) ganharam seu vigor sexual necessário para ter relações sexuais satisfatórios de volta.
Somente substituindo Testosterona o efeito não era satisfatório.

 

Não é preciso nem desejável comer de três em três horas.

Até gato ganha facilmente Diabetes, quando engorda demais

 

Explicação: Esta estratégia de comer de três em três horas é um plano para bebês de até 6 meses de vida, seguido de alimentação de quatro em quatro horas até a idade de um ano. Depois de 1 ano a criança deve comer as três refeições com o resto da família.
Comer as três refeições principais e nada de lanches entre elas é uma ótima prevenção para não ficar obeso. Caso que a criança volte da escola faminta e a comida para toda a família ainda não está na mesa, sempre basta oferecer uma cenoura ou uma maçã para matar a voracidade.

Na era dos anos 80 os especialistas em tratamento de Diabetes introduziram uma terapia experimental. A ideia era oferecer um lanche de três em três horas para deixar a glicose sanguínea do diabético com uso de insulina mais estável.
Já que os diabéticos não comeram somente uma cenoura, uma maçã ou outra coisa leve no lanche e ao contrário se saciaram cada vez, eles ficaram com sobrepeso enorme e o Diabetes piorava.
Endocrinologistas alemães abandonaram a estratégia de comer de três em três horas já desde faz pelo menos 20 anos. Cada diabético deve comer as três refeições principais e não mais. Somente em casos especiais o endocrinologista pode prescrever p.ex. um iogurte natural (!) antes de dormir para a prevenção de hipoglicemia noturna.

 

 

O hormônio Insulina é a chave para entrar açúcar na célula. É também um fator potente de crescimento, um adubo.

Insulina é a chave para facilitar a entrada de glicose na célula.
Cada célula do corpo precisa açúcar (glicose) para viver. O trabalho dos músculos no movimento mais natural, na caminhada, permite a entrada deste açúcar nas células sem insulina. Em tranquilidade, quando andamos, usa o corpo insulina, sua chave especial, para facilitar a entrada de açúcar nas células.

Insulina é o hormônio de engorda. Seu trabalho consiste em facilitar a entrada de glicose em células especializadas, os lipócitos, para transformar glicose em gordura. Assim o corpo estoca a energia para os tempos de fome.

Insulina tem uma terça função: é um fator potente de crescimento.
Em doses altas, não previsto nos nossos genes, perturba insulina o equilíbrio entre crescimento e catabolismo, endurece assim as paredes dos vasos, o que leva a pressão alta (hipertonia arterial) e deixa crescer o que não deve crescer, principalmente tumores malignos da mama, do útero, do rim, do esôfago e do intestino. O risco de adoecer por câncer aumenta com o número dos anos de obesidade, porque o tecido gorduroso produz constantemente fatores de crescimento, hormônios e sustâncias pró-inflamatórias. Obesidade é um dos três fatores que são responsáveis pela metade das doenças cancerosas. Os outros dois são o tabagismo e o alcoolismo.

E todas as chamadas “doenças civilizatórias” aparecem com mais facilidade. Esta lista não é completa:

Inatividade leva à meia-vida de cada célula. Meia-vida da célula leva às “doenças civilizatórias”.

O corpo precisa para cada quilo de peso uma certa quantia de insulina. Muita insulina no corpo não faz bem.

Se comemos mais amido ou açúcar que gastamos, o pâncreas precisa produzir mais insulina para manter a glicose sanguínea num nível normal, estocando ela em forma de gordura nos lipócitos.  O peso corporal aumenta. Caso que temos muita insulina no sangue, falamos de hiperinsulinismo. Hiperinsulinismo está já muitos anos antes de aparecer o Diabetes um fator importante para danificar os vasos.

Com pouco hormônio de engorda é mais fácil controlar o próprio peso.
Nossa informação genética não mudo significantemente os últimos 100.000 a 70.000 anos. Vivendo de acordo com nossa informação genética, comendo pouco amido, mais folhas, tubérculos, raízes, frutas e carnes, precisamos somente pouca insulina no dia-a-dia.

 

Muito amido exige muita insulina – muita insulina produz muita gordura – muita gordura produz peso maior – cada quilo de peso precisa sua quantia de insulina….

 

Como tem pessoas altas e baixas, tem também pessoas com pâncreas forte ou mais fraco. Os primeiros se acham seguros (“eu não tenho Diabetes, doutor…”), mas não são. O coração deles precisa bombear mais litros de sangue num corpo com mais quilos, os rins deste corpo precisam desintoxicar mais detritos. Todo este sistema sofisticadíssimo está sobrecarregado. A probabilidade de falha de um órgão já está programada.

Nas pessoas com o pâncreas mais fraco, alimentação rica em amidos e açúcares, aparece o Diabetes cedo, caso que a energia não é gasta pela atividade corporal do dia. Em geral estas pessoas não são muito obesas.

 

Um estudo novo, publicados na revista Nature Communications, mostrou que o tecido gorduroso sente stress quando forçado de acumular gordura em excesso. Isto chama a atenção do sistema imunitário, que produz inflamação. 

Sobrepeso permanente faz stress permanente com o efeito que a inflamação se espalha via sangue pelo corpo todo. Isto leva por fim a uma reprogramação do sistema imunitário com a consequência que as células imunitárias não lutam mais contra células cancerosas, senão podem até ajudar eles a proliferar.

Conclusão: caso que tenha células cancerosas no corpo, o sobrepeso ajuda o crescimento delas.

 

Os fatores principais para doenças cardiovasculares são o costume de fumar tabaco, a hipertonia arterial, o Diabetes mellitus tipo 2, a obesidade, o colesterol-LDL e o ácido úrico elevados.

Todos estes fatores de risco aumentam a chamada inflamação silenciosa, principal causa do nosso envelhecimento. Hipertonia arterial danifica mais os vasos maiores, Diabetes mellitus mais os vasos menores, os capilares. As duas doenças se potencializam no efeito de estragar a circulação sanguínea.

Viver no sentido como a natureza nos criou, com o corpo em movimento durante o dia e comendo comida preparada com ingredientes naturais, diminui esta inflamação. Em consequência envelhecerá o corpo mais lento e as doenças ficam mais afastadas.

Lembre-se: segundo informações de paleoantropólogos temos na nossa alimentação cereais em quantia maior somente desde aproximadamente 12.500 anos. Sempre era farinha integral, do grão inteiro. Não como hoje farinha branca, com pouquíssima fibra. No corpo da gente o amido dos cereais está transformado em açúcar (glicose).
Açúcar de cana puro existe aqui no Brasil somente desde faz aproximadamente 500 anos.

A genética da gente praticamente não mudou nos últimos 70.000 a 100.000 anos. Não estamos ainda acostumados a uma comida muito diferente.

Repito: o corpo tem mil estratégias para se defender contra a morte por fome, mas nenhuma para se defender contra o supérfluo permanente. Ele está acostumado e aperfeiçoado para tempos de jejum.

 

Existe uma estratégia fácil e inteligente, como você pode simular uma falta de alimento para seu corpo: o jejum intermitente (16/8).

O Jejum Intermitente NÃO está indicado sem acompanhamento médico e monitoramento da glicemia para pacientes com uso de Insulina ou Sulfonilureias como Glibenclamida, Gliclazida ou Glimepirida: existe o perigo de hipoglicemia.

É simples: p.ex. coma normal durante 8 horas e não coma durante o resto de 16 horas do dia.
Coma p.ex. de 11 horas da manhã até 7 horas da noite. De 7 horas da noite até 11 horas da próxima manhã somente água, chá ou café (sem açúcar e sem adoçante). Isto em 4 a 5 ou 6 dias da semana. Deixe o fim de semana começar bem gostoso com café e um brunch bem preparado.

Seu corpo vai notar a falta de comida e vai se preparar para os tempos bem conhecidos de fome. A preparação dele começará com a busca de restos que tem ainda em casa (glicose estocada e resíduos do metabolismo, “lixos”, dentro e fora das células). O corpo vai primeiro gasta-los e depois de arrumar a casa, vai começar de viver da gordura estocada: vai da gordura produzir os chamados “corpos cetônicos”, sustâncias que substituem a glicose.

 

A meta não é só a perda de quilos, senão a normalização do metabolismo como previsto pela natureza. Assim sua qualidade da vida vai melhorar.

O jejum intermitente é uma solução inteligente, ajuda seu corpo de se manter saudável e deixa os quilos de sobra lentamente cair, caso que você observa as regras básicas de uma alimentação saudável. É bem mais fácil do que você pensa. Seu corpo se acostumará em poucos dias e sentirá falta nenhum.

O regime 16/8 é indicado também para pessoas com peso normal, já que o jejum intermitente não é em primeiro lugar uma medida para perder peso, senão para deixar o corpo saudável. Não tem perigo de perder demais peso. A medida ajuda a chegar ao ideal peso individual.

E claro, cada um de nós faz como é melhor para ele. Uns não querem começar o dia sem um café da manhã bem feito e outros não querem terminar o dia sem se beneficiar para o dia de trabalho com uma boa janta.

 

Apareceram novos medicamentos prometedores para diminuir o peso e a mortalidade

Os chamados Incretinos ou GLP-1-Analoga são modificações do hormônio do intestino GLP-1 (Glucagon-like-peptide-1). Como os precursores naturais eles normalizam a glicose no sangue e controlam o apetite. Enquanto o hormônio natural GLP-1 tem uma ação somente durante segundos, os Incretinos tem uma ação de horas ou dias, também em pacientes com insuficiência renal.
Liraglutida é o nome internacional do primeiro medicamento deste tipo.

Incretinos controlam não somente a glicose sanguínea, senão diminuem já desde o começo da terapia o risco elevado do diabético de desenvolver acidentes vasculares e arteriosclerose. Efeitos de prevenção cardíaca e cerebrovascular são comprovados para Liraglutida, Dulaglutida e Semaglutida.
Semaglutida precisa ser injetado somente uma vez por semana. Neste medicamento bem tolerado o efeito de perda de peso é especialmente forte, como comprovado num estudo com 2.000 pacientes.

O mecanismo exato que leva a perda de peso ainda não se conhece exatamente, mas sabe-se
1. que a sensação prolongada de saciedade é responsável, induzida pelo tempo prolongado de esvaziamento do estômago, e
2. que os GLP-1-Agonistas sinalizam ao cérebro que tem bastante comida e que não é necessário de comer por enquanto.

Enquanto a medicação com GLP-1-Agonistas pode ser terminada a qualquer hora, o estado corporal após cirurgias bariátricas é irreversível, com a necessidade de cuidados permanentes respeito aos vitaminas, minerais e eletrólitos. A vantagem da cirurgia bariátrica é que pacientes operados pesam em geral mesmo após 20 anos uns 20% a menos que antes da cirurgia. Com os agonistas de GLP-1 ainda não temos 20 anos de experiência.

Outro grupo novo e comprovado para diminuir dramaticamente a morte precoce por Obesidade e Diabetes são os Gliflozinas, derivados da casca de macieira. Eles impedem a reabsorção de glicose no rim. Assim a glicose sai com a urina e o corpo perde assim constantemente energia. As substâncias Empagliflozina e Dapagliflozina são as mais usadas por ser as mais eficientes.

 

Nova molécula com ação ainda melhor para perder peso

Em cooperação com GLP-1 trabalha outro hormônio no intestino, o GIP (glucose-dependent insulinotropic peptide). GIP reforça os efeitos de GLP-1. A estrutura do GIP é em grandes partes idêntica com GLP-1. Por isso uniram os cientistas somente as partes diferentes das duas moléculas numa única molécula, a chamada Tirzepatida. Este medicamento está atualmente testado em pacientes com Diabetes do tipo 2. O nome do estudo é Surpass-2.

A empresa farmacêutica Eli Lilly comprovou que Tirzepatida oferece ainda resultados melhores no controle de Diabetes e na queda do peso que Semaglutida. E já tem mais duas composições bioquímicas deste tipo de outras empresas em fase de teste.

Um dos pesquisadores chama os resultados de Tirzepatida “sem precedentes”, mas enfatiza que o estudo ainda não pode apresentar todos os resultados ao público. “Mas não esperem demais,” ele acrescenta, “sem abandonar os costumes que levaram ao Diabetes, qualquer medicamento não pode desenvolver todo seu potencial”.

Enquanto o estudo de Tirzepatida não é terminado, controlado e publicado, não se pode informar ainda sobre segurança e tolerabilidade de Tirzepatida. Ao contrário de Liraglutida e Semaglutida que já são usados faz muito mais tempo.

 

Se você detesta alongamento, musculação e caminhadas, descubra outras formas de movimento corporal para se manter em forma.

Somente cuidar da alimentação definitivamente não basta. O essencial é se movimentar e não ganhar sobrepeso, pois o corpo vai durante a vida toda tentar voltar para seu peso anterior.

Ficar gordo frequentemente é a adaptação psicosocial a circunstâncias difíceis, como uma das minhas pacientes formulou: “No momento tenho somente a escolha entre saúde psíquica ou corporal”. A solução talvez seria um especialista do setor financeiro para diminuir dívidas, uma nova vaga de trabalho, um amigo que abraça ou uma terapia psicológica.

É bom falar abertamente sobre as dificuldades, encontrar juntos um caminho é mais fácil.

Para ansiosos e pessoas sem sono: não existe antidepressivo e sonífero mais potente que “andar em ar puro na luz do dia”.

 

Aproveitando as belezas da natureza – o caminho é a meta

Agora, como facilitar mudanças nos próprios costumes:

1. Qual a moléstia principal? Qual seria a medida mais adequada para eliminar esta moléstia e melhorar assim sua vida? Muitas vezes durante o dia pense sobre medidas que podem melhorar sua qualidade de vida.

2. Se for possível, comece hoje mesmo.

3. As caminhadas faça acompanhado. Convide o parceiro, os filhos ou amigos. Não treine sozinho. Muito mais gostoso de andar e conversar sem stress.

4. Crie rotinas. Para diminuir dores corporais p.ex. faça todo dia alongamentos na sua cama, à noite antes de dormir e pela manhã antes de levantar. Acostuma-se a novas rotinas como a lavar a boca. Claro, em caso de uma dor aguda também.

 

 

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